“Penso que todo casal deveria assistir ao filme “Marley e eu” antes da chegada de um bebê, porque é mais ou menos aquilo que acontece. Sua vida está com tudo no devido lugar: você trabalha, tem dinheiro guardado, hora para levantar, tomar café e almoçar, pode viajar e sair todas as noites para namorar ou encontrar os amigos. E, de repente…tudo vira de cabeça para baixo!”
É assim que a profissional de Marketing Keldy Marcondes, de 40 anos, descreve a chegada dos filhos no casamento. A tranquila vida a dois é substituída pela dinâmica de família, com novos papeis e atribuições. Agora, além de esposa e marido, é preciso aprender a ser mãe e pai. Lidar com toda a carga de responsabilidade que esses títulos representam não é nada fácil, mas com muita disposição e diálogo é possível alcançar o equilíbrio necessário.
Para ajudar você, futura mamãe, perguntamos a alguns leitores quais são as mudanças mais comuns quando o primogênito nasce. Confira as dicas de homens e mulheres que já passaram por essa experiência e saiba como lidar com a nova realidade da vida conjugal!
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As novas escolhas
Para a grande maioria entrevistados, a virada mais marcante com a chegada de um bebê é a mudança de prioridades. Em alguns casos, todo um projeto de vida é colocado em xeque.
A engenheira cartográfica Aline Fagundes, por exemplo, se dedicou boa parte do tempo aos estudos e ao trabalho, até que veio o casamento e a maternidade. “Decidi sair do trabalho para cuidar dos filhos. E, para isso, precisei de muito apoio e compreensão do meu marido”, conta, ressaltando as mudanças no orçamento familiar.
“Aquele dinheirinho que era reservado para uma viagem ou uma reforma no apartamento agora tem como prioridade a mensalidade da escola e todos os outros gastos que os filhos demandam. A reforma e a viagem ficam para “quando der”, compara.
A gestora comercial Eliza Domiciano também fala sobre a nova mentalidade com relação ao dinheiro. “Muita coisa deixa de ter valor. Sabe aquela mania de cinema? Aquela loja de sapatos? Bobagem! Agora é tudo para o bebê”, orgulha-se a mamãe do pequeno Samuel, de 1 aninho.
Para o radialista Wellington Leite, é preciso reaprender tudo: viver com menos dinheiro, dormir menos, ter horários mais apertados, trocar os jantares por almoços, o cinema legendado pelo dublado — e mais uma extensa lista de adaptações. “A chegada de um bebê envolve uma grande disciplina com correção constante do que você é, para servir de exemplo aos filhos”, ensina.
O espaço do casal
Com o bebê em primeiro lugar, as necessidades do casal ficam sempre para depois. Mas, pelo menos no início, o espaço para os papeis de marido e esposa é praticamente nulo. “Sobra pouco tempo para o casal, o que exige muita paciência dos dois. É como se o casamento ficasse em pausa”, afirma a arte-educadora Livia Seber van Kampen, mamãe da pequena Marina, de um ano.
Já Aline conta que o tempo a dois diminuiu bastante, mas ela e o marido aprenderam a aproveitá-lo melhor quando aparece uma oportunidade. “Percebo que os filhos criaram em nós um foco em comum, nos amadurecendo e nos fortalecendo como casal. Só acrescentou coisas boas à nossa vida e nos fez exercitar ainda mais a compreensão, a paciência, o diálogo e o amor”.
Assim como foi para Aline, em muitos casos as perdas são ressignificadas e transformadas em outros ganhos. Para a assistente social Simone Silva, por exemplo, há pouco tempo e disposição para namorar, mas a família aprendeu a se curtir “a três”. “Não tem mais graça só nós dois agora. Com a chegada de um bebê, passamos a existir a três, uma família que se protege, se cuida e sente prazer mutuamente”, orgulha-se.
Ela conta que a frequência do sexo diminuiu bastante, mas isso só seria um problema se não houvesse o pequeno Theo. “Agora, o mais importante é estarmos bem. Beijos, abraços e carinhos acabam sendo a três, sem hora definida. E os gestos carinhosos ganham outras possibilidades: passar um café, trocar uma fralda, levantar de madrugada para olhar o bebê… o amor se fortalece pela parceria e cumplicidade”.
A importância de dividir as tarefas
Todos os casais são enfáticos sobre a importância da justa divisão de tarefas para o equilíbrio da nova família. “O meu marido participa muito, então não pesa só para mim. É difícil resgatar o namoro, pois estamos sempre com pressa. Cada dia é uma mudança diferente. Mas percebi que tudo vai se encaixando quando todos ajudam”, conta Eliza.
Já a mamãe Lívia ressalta que, com a chegada do bebê, ambos acabam vivendo de modo alternado. “O Rodrigo trabalha em casa, então ele fica com a Marina enquanto eu dou aula, quando chego fico com ela para ele trabalhar também”. Nesse contexto, é fundamental que o homem assuma o papel de responsável, não um mero ajudante.
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Diálogo precisa ser constante
Por mais unido que seja o casal, é muito difícil que toda essa reviravolta aconteça de maneira tranquila. Por isso, a disposição ao diálogo é fundamental. Wellington destaca que o casal pode se ver diante de um grande conflito de valores que não existia durante o namoro.
“Na educação dos filhos, isso fica evidente. Vai para a escola pública ou para a particular? Vai falar palavrão? Quais são permitidos? Vai comer porcaria? Quais estão liberadas? Vai dormir a que horas? Quem lava a roupa? De que jeito? Quem cozinha? O que? Quem vai insistir? Enfim, uma luta que só se resolve conversando muito. Mil vezes, se preciso”, aconselha o radialista.
Ainda na perspectiva masculina, o hipnoterapeuta Rodney Matos tem uma visão mais branda dessa transição. “Óbvio que, no início, os horários eram todos diferentes e tivemos que nos adaptar ao relógio biológico das crianças. Mas, depois do puerpério, a parceria continuou a mesma, o tesão foi voltando também e continuamos saindo quando possível, mas isso não era problema porque sempre fomos muito caseiros”, conta.
Rodney é uma exceção: a maioria dos casais relatam algumas discussões até que as expectativas sejam suficientemente alinhadas.
“Muitas vezes já brigamos ao ponto de pensar em cada um ir para o seu canto. Mas a gente olha para aquela coisinha linda e se lembra de como ela foi feita com muito amor. É por ela que a gente tem que dar o nosso melhor”, derrete-se a administradora Juciele Alves. E assim, prevalece a vontade de mostrar para a bebê que papai e mamãe se amam. “Quero que ela sinta que a vida dela também poderá ser tão linda quanto a nossa”, afirma Juciele.
Ou seja: não há mesmo receita para a felicidade conjugal após a chegada de um bebê. Cada casal terá suas particularidades e diferenças na busca por uma união com mais harmonia.
Quando é melhor mudar o rumo
Como é difícil lidar bem com a chegada de um bebê, nem sempre as uniões perduram. Foi o caso do casamento da nutricionista Márcia Salandini, que se separou logo após o nascimento do filho Igor, hoje com 1 ano e 7 meses. “A maior prova de amor é enxergar para além do momento e perceber o quanto aquele ser pode unir o casal. Além da paixão, também é importante manter a admiração e o respeito. Se desata é porque não era nó, não tinha maturidade para ser amor”, acredita Márcia.
A empresária Renata Moreira também acredita no poder da admiração no fortalecimento do casal. “Por um período os dois se voltam para a criança e aos poucos voltam a se olhar. Quando empenham bem seus papéis, a admiração aumenta: o que era bom antes do casamento fica ainda melhor porque o outro se torna um bom pai ou uma boa mãe. Mas o contrário também pode acontecer”, ressalta Renata.
A autoestima após a chegada de um bebê
Depois que a criança nasce, o corpo da mulher muda e o tempo para cuidar de si diminui. Fatalmente, a autoestima vai abaixo, correto? Não exatamente! Esse mito precisa ser desfeito e a percepção da Simone pode ajudar muitas mamães a olhar com outra perspectiva para esse momento. Ela afirma ter ficado muito mais segura.
“No início me senti um pouco mal, me achando nada atraente. Depois reparei em como o Thiago me olhava: um olhar de admiração e respeito que não tinha visto antes. E aí, meu bem…não tem como competirem comigo! Nem a mais fitness, nem a mais maquiada”, brinca Simone, que parece já ter se acostumado totalmente a ser esposa de um personal trainer. E dispara: “Tem que se permitir sentir a dor de crescer. Se você não está disposto a mudar, melhor nem se aventurar”.
Será que em algum momento as coisas voltam ao normal? “Talvez essa seja a questão. Não voltam. Nem o corpo, nem a liberdade, nem a cabeça de antes”, acredita Lívia. Para ela, cada um vira uma nova pessoa e, consequentemente, um novo casal surge. “Daí tem que conversar muito para conhecer essa nova pessoa, não é?”, ressalta. Há 12 anos junto com o marido, Lívia garante que se apaixonou novamente pelo homem que Rodrigo se tornou.
Mais experiente do grupo de entrevistados, a Keldy, que abriu este post, já tem filhos bem crescidos e acalma o coração dos jovens pais mais aflitos: “Os dias vão passando e você não se lembra mais daquela vida que você tinha antes. Ser mãe, para mim, é acordar em um mundo muito diferente. E gostar mesmo assim, pois um amor incondicional nasce junto com o bebê”, comemora.
Realmente não há fórmula, mas de todas essas histórias podemos tirar uma lição importante: o amor do casal precisa ser alimentado pelo esforço diário de ser uma pessoa melhor e pela disposição em aceitar o outro. Além, é claro, da certeza de que no final tudo vai ficar bem — juntos ou separados.
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