Nas rodas de conversa entre mães, uma polêmica está sempre presente: qual é o real papel dos avós na criação dos netos? O espaço concedido a eles é extremamente necessário, mas também existe um limite — geralmente, quando a presença excessiva compromete a autonomia dos pais.
Esses depoimentos, não identificados para não causar (ainda mais) problemas aos autores, foram extraídos de fóruns de discussão sobre maternidade no Facebook. Você se identifica com algum deles?
“Hoje estou tão exausta física e mentalmente, e minha mãe me ligou querendo vir à minha casa amanhã. Eu falei que não estava afim de receber visitas. Eu sei, fui grossa, e logicamente ela ficou tão chateada que desligou o telefone na minha cara. Nesse momento, não tenho disposição para ficar “fazendo sala” e escutando uma pessoa falar o dia todo na minha cabeça. Cansada, apenas isso.”
“Moro com a minha sogra e ela não larga meu filho. Direto quando vejo ela está com ele no colo, não o deixa nem respirar direito. Fica toda hora me dizendo o que fazer. Sei que sou mãe de primeira viagem, algumas coisas eu não sei, mas cuidei da minha irmã desde a hora em que ela nasceu, então tenho uma noção. Então não sei o que faço, não quero magoar ela, mas está demais.”
“Minha sogra e sogro tentaram acordar meu filho enquanto estava dormindo, eu dei um mini show… Primeiro expliquei que não queria, pois ele tinha passado a noite sem dormir por causa de cólica. Mesmo assim acordaram, e eu deixei bem claro o quanto estava irritada… Peguei ele e fiz dormir de novo… Me estressei demais, sei que magoei os dois e o meu marido, mas não me arrependo, pois só assim eles começaram a respeitar mais as minhas escolhas.”
“Hoje fiz minha mãe chorar… Ela vem muito na minha casa, cerca de 3 ou 4 vezes na semana. Tudo o que meu marido fala ela gosta de discordar — se ele diz que não vai querer que nossa filha faça tal coisa, daí minha mãe rebate que vai fazer sim e fica insistindo naquilo. Quando ela vai embora, meu marido fala até na minha cabeça. Cheguei no limite e falei pra ela parar de fazer isso, expliquei os motivos, ela disfarçou, saiu de perto e foi chorar. Fiquei com o coração na mão, mas também não aguentava mais essa situação.”
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O fantasma da culpa
Como podemos perceber, se não bastasse o estresse causado por interferências indesejadas, depois da raiva nasce outro sentimento difícil de aceitar: a culpa. Afinal, é da sua mãe e do seu pai que estamos falando, aqueles que deram a vida por você. Ou do seu sogro e sua sogra, que são bens importantes para o seu companheiro.
Mas, calma. Muita calma nessa hora! Já falamos por aqui sobre alguns aspectos psicológicos da gravidez e ressaltamos um conceito muito importante sobre a mente e os relacionamentos: eles são complexos demais para serem associados a um único sentimento. Amor e raiva podem coexistir, e isso é perfeitamente normal.
Compreendendo o fenômeno
No decorrer de toda a vida, temos oportunidades de gestar novos aspectos de nós mesmos — e isso continua na velhice. Tornar-se avô e avó traz a profunda emoção de presenciar a chegada de uma nova geração de pessoas na família, como explica a psicóloga Maria Tereza Maldonado no livro “Os primeiros anos de vida – pais e educadores no século XXI”.
“Ver a atuação dos filhos como pais e mães abre caminhos de reflexão sobre como eles mesmos agiram quando os educaram. Inaugura-se uma nova etapa na relação, e há o desafio de estabelecer fronteiras de atuação: interferência, ficar muito ou pouco disponível para atender às solicitações ou construir uma parceria eficaz?”, questiona Maria Tereza.
Nesse contexto, ela ressalta que existem avós que gostam de “deseducar” os netos: deixam que eles façam tudo que querem, dão a eles tudo que pedem, querem acertar onde acreditam que erraram.
“Nesse tipo de relação, os avós sabotam a atuação dos pais e às vezes até mesmo competem com eles pelo amor da criança. Há os que assumem os netos como se fossem filhos, e os pais se comportam como se fossem irmãos do bebê. Assim, os pais permanecem “eternos adolescentes”, enquanto os avós não se sentem envelhecendo”, revela.
É aí que surge o grande dilema: os pais que sentem dificuldade de apreciar como seus filhos adultos conduzem suas vidas podem se tornar extremamente críticos ao vê-los educar os próprios filhos.
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Aprendendo a lidar com a interferência
Pela ótica desse tipo de avô e avó, a leitura da questão é a seguinte:
“Minha filha sempre foi desorganizada com os horários e com a arrumação da casa, eu fico horrorizada com tamanha falta de rotina! Minha neta não tem horário para comer, nem para dormir, nem para coisa alguma. Eduquei meus filhos com horário para tudo, minha casa sempre foi impecável. Fico na casa da minha filha duas tardes por semana para tomar conta da menina enquanto ela faz um curso, aí tento colocar ordem na casa, falo muito com ela sobre isso, mas não adianta, a gente acaba discutindo…”
E assim, a interferência, sentida como invasão de território, pode dar margem a brigas frequentes nas quais as crianças acabam envolvidas. Entre esses extremos e divergências, existe sim a possibilidade de desenvolver uma boa parceria entre pais e avós — desde que haja abertura de ambas as partes.
Procure compreender e aceitar seus limites o quanto antes, desde o início da gestação. Isso vai evitar o acúmulo de mágoas que acabam sendo expressadas em explosões emocionais nas quais todos saem machucados. Mas, caso não seja possível contê-las, não se martirize: não só você, mas o outro também precisa estar aberto a identificar onde errou.
Lembre-se que a harmonia familiar também é importante para o seu filho. As crianças que se sentem amadas e acolhidas pelos avós constroem com eles desde cedo uma relação de confiança e de alegria.
E você, como lida com o papel dos avós na criação dos netos? Temos certeza que a sua jornada tem sido marcada por muito aprendizado e autoconhecimento. Deixe um comentário e conte a experiência para ajudar outras mamães!